quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Senhores da bola V - José Maria Pedroto (um doutor do futebol)


Há muito que não escrevia sobre "Senhores da Bola". Mas é necessário voltar a fazê-lo em homenagem a um doutor. José Maria Pedroto. Talvez o melhor treinador de sempre português (e talvez também a actuar nos campos portugueses). Hoje, nos três jornais desportivos portugueses e no jornal online "Maisfutebol", há inúmeras referências a Pedroto, com discursos de quem com ele conviveu mais de perto, de histórias passadas e sobre a sua vida.

Mais que tudo o resto, é necessário dizer-se que nasceu a 21 de Outubro de 1928. Morreu a 7 de Janeiro de 1985 com cancro no cólon. No dia anterior à sua partida, disse: "Agora que me preparava para descansar, ir para o Algarve e desfrutar do barquito que comprei, Deus fez-me isto: chutou-me para canto". Faz hoje 25 anos. E desde então, o futebol português não mais voltou a ser o mesmo. Porque além de marcar uma era, Pedroto revolucionou o futebol em Portugal. Foi um visionário; um homem à antiga; alguém culto e inteligente; parecia adivinhar o que se ia passar (quando no início da década de 80 Armando de Sá se afastou da presidência do FC Porto, num encontro com Pinto da Costa, "informou" o actual presidente azul-e-branco de que o sucessor de Sá ia ser ele!). Gostava de jogar às cartas; deitava-se tarde; educava os jogadores com severidade: «O futebol é muito fácil. É o pão numa mão e o chicote na outra. A virtude é nunca usar o chicote»; este é um breve retrato de Pedroto. Que achava que o futebol não era para mulheres.

Mas antes de ser treinador, Pedroto foi jogador. Grande jogador. Jogou no Leixões, no Lusitano VRSA, no Belenenses e, por fim, no FC Porto. Esteve na selecção. E logo aí demonstrou ser um grande pensador; era um médio de classe, talvez na sua época em Portugal não houvesse melhor. Era muito trabalhador, não gostava de perder nem que lhe fizessem "maldades" (recorde-se a agressão a Peridis num FC Porto 1-6 Sporting, depois de um "túnel" do sportinguista sobre Pedroto). Era assim.

Mas este homem atingiu ainda maior glória quando se tornou treinador. Começou na selecção de juniores, em 1961, convidado por David Sequeira. Conseguiram conquistar o Campeonato da Europa e seguiu-se uma curta experiência nas camadas jovens do seu FC Porto. Depois, Briosa. Entre 62 e 64, manteve a minha equipa na 1ªliga, com um 9º e um 10º lugar; passou por Leixões, Varzim, e, finalmente, pelo clube do coração: o Futebol Clube do Porto.

Foi a primeira vez que treinou a equipa sénior dos dragões. Foram os anos que iniciaram a revolução: em 66/67, conseguiu um 3º lugar, à frente de Sporting mas atrás da grande Académica dessa época (que tinha, entre outros, Gervásio e Artur Jorge) por apenas um ponto. O Benfica ficou à distância de 3; depois, na época seguinte, repetiu o 3º lugar, de novo a um ponto do 2º classificado (o Sporting, desta feita). O Benfica fez o "bi"; por fim, ficou em 2º, Benfica fez o tri. Foi no fim desta época que Pedroto teve problemas com a Direcção azul-e-branca, na altura presidida por Afonso Pinto de Magalhães, e que acabou por levar à expulsão de sócio e consequente impedimento de treinar o clube. No entanto, seis anos depois, por proposta do sócio (na altura) Jorge Nuno Pinto da Costa, uma Assembleia Geral acabou com esta decisão e Pedroto retornou ao Porto em 76.

Numa altura conturbada, no pós-25 de Abril, o "Zé do Boné" tomou as rédeas de um clube que precisava de mais uma revolução. No primeiro ano, ganhou a Taça de Portugal; nos dois anos seguintes, chegou, por fim, o campeonato desejado. Ou melhor, "os". Foram dois. O FC Porto jogava belíssimo futebol. Pedroto tinha pouca massa humana mas fez dela uma grande equipa, de futebol organizado, um pouco à semelhança do que o Barcelona faz hoje em dia. Até aí Pedroto foi um visionário. Mas ele olhou para o estilo de Ajax e Bayern para se inspirar. Com Oliveira no meio-campo, o Porto comandava as operações a partir do miolo, controlava sem se enervar. Pelo contrário, enervava o adversário, fazia a "chamadinha" e matava o jogo como um coelho. O onze habitual era este: Fonseca, Gabriel, Simões, Freitas e Murça, Rodolfo, Octávio e Ademir, Seninho, Oliveira e Gomes. Fica na história a goleada imposta ao Manchester United, numa eliminatória para a Taça das Taças em 77/78 por 4-0, no Dragão (5-2 na 2ª mão). Depois saiu no fim de 80. O famoso "Verão Quente". 18 jogadores faltaram ao 1º dia de treinos, como forma de protesto pela saída de Pedroto. Por respeito ao 'Mister'. Foi para Guimarães, dois anos chegaram para conseguir um quarto e um quinto lugar. Depois, de novo o 'seu' FC Porto.


Agora, por mão directa de Pinto da Costa. Já era ele o presidente dos azuis-e-brancos e foi ele que contratou o seu amigo para o cargo. Não ganhou qualquer campeonato, é certo, mas preparou e deu estaleca europeia a uma equipa que pouco se conhecia lá fora. Quando Pedroto se afastou definitivamente do futebol, em Março de 84, deixou uma equipa bem organizada. Um novo FC Porto, que perderia a final da Taça das Taças com a Juventus, em Basileia. O

E depois, a morte. O maldito cancro do cólon que o foi devastando ao longo dos últimos anos de vida, que mesmo assim não o impediu de treinar até poucos meses antes da sua morte. Morreria a 7 de Janeiro de 1985. Tal como disse ao jornal A BOLA, o professor Hernâni Gonçalves, "Pedroto não morreu, apenas deixou de ser visto nos estádios, nas tertúlias e no seio da sua família!".


Obrigado Mestre, Zé do Boné, Homem dos Sete Instrumentos, obrigado ao homem que sabia que não sabia. O melhor treinador de sempre do futebol nacional. Obrigado José Maria Pedroto.

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