segunda-feira, 29 de março de 2010

Há males que vêm por bem


Amanhã falarei da redução dos castigos de Hulk e Sapunaru (para mim, sem qualquer sentido). Mas hoje falo do regresso do Incrível. Daí, os males que vêm por bem. A redução, sem sentido, trouxe de novo Hulk ao futebol português. E que privilégio temos nós por poder desfrutar do seu futebol.

Mas nem sempre foi assim. O jogador que ontem desfez o Belenenses, foi o mesmo que nos presenteou com grandes exibições em 2008/09. Não aquele outro que atravessou péssimo momento antes de ser castigado (voltando ao individualismo do Hulk dos primeiros jogos da época 08/09 e sem qualquer ponto positivo). Para bem do nosso futebol (e sobretudo do FCP), Hulk pode estar de volta ao que era na época passada. E talvez o mal de ter sido castigado o tenha feito evoluir como jogador e fazê-lo pensar na vida.

Ontem marcou um golo, a fazer lembrar os velhos tempos (que não são assim tão longínquos), uma bomba à entrada da área, mostrando a sua facilidade de remate. Antes havia cruzado da melhor maneira (num livre) para a cabeça de Rolando desviar para o 0-1. Depois de marcar, tempo teve ainda para oferecer "de bandeja" o golo a Radamel Falcão, que agrade o regresso do incrível ao ataque portista. Hulk não é um jogador normal. A sua capacidade de arranque faz, por vezes, lembrar Eusébio nos seus melhores tempos, quando deixava para trás quem bem lhe apetecia só em velocidade. Mas Hulk tem muito a aprender. Desde logo melhorar a sua regularidade. Com mais trabalho conseguirá. Não é ainda um jogador para grande clube; mas poderá ser, num futuro próximo, jogador para gigante clube. É só preciso assentar a sua cabeça e perceber que ser jogador de equipa conta muito no futebol de hoje.

Para bem do futebol, o Hulk de 2008/2009 deveria voltar. Será que Belém foi a demonstração de que isso irá acontecer?

domingo, 28 de março de 2010

O caminho para o título


O título é esclarecedor. Ontem, o Benfica não deu apenas mais um passo para a conquista do título de campeão nacional que já lhe escapa há quatro épocas (todas dominadas pelo rival da Invicta); deu um passo gigante, tão gigante como a o homem que marcou o golo que decidiu a partida de ontem (Luisão; depois de Torres, há de novo um “bom gigante” nos lados da Luz). A grande diferença desta equipa para outras de anos anteriores, é que se tem visto um Benfica constante ao longo da época e que nas alturas certas não falha. Foi assim na Luz contra FC Porto e Braga, e assim foi também em Marselha. Não foi o Benfica vistoso como é habitual, mas há momentos em que as equipas têm de ser racionais (repare-se no jogo da primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, quando o Benfica tinha eliminatória na mão, sofreu um golo aos 90 minutos porque simplesmente se recusou a parar o se jogo ofensivo), e cabeça foi o que não faltou aos encarnados na partida de ontem. Marcou em cima do intervalo, de novo por Luisão (a fazer lembrar 2004/05), e depois procurou o segundo na primeira metade da 2ªparte. A partir daí, “resignou-se” ao 1-0, lutou para controlar (e fê-lo) e acabou com os três pontos na mão, que acabam por ser muito mais do que apenas três pontos. São três pontos, somados a uma derrota do Braga (ou seja, alargar a vantagem para seis preciosos pontos) e ainda a um enorme balão de confiança para os quartos da Liga Europa contra o Liverpool.

No que ao jogo diz respeito, não foi um grande jogo. Muito se pensou e jogou nos bancos. Batalhas tácticas, normalmente não se traduzem em jogos fabulosos, e poucas oportunidades foram criadas ao longo do jogo. Boa saída de Eduardo aos pés de Saviola e depois o golo em cima do intervalo. Limpo, pois a bola bate nos joelhos do capitão do Benfica. Isso deu enorme descanso aos anfitriões, que acalmaram, ficaram muito menos ansiosos (é normal, o mais difícil tinha sido conseguido naquele momento) e descontraíram. Procuraram aumentar a vantagem mas depois preferiram resguardar-se. Aos 69 minutos surgiu a melhor oportunidade para os bracarenses, com a cabeçada de Moisés, após livre de Aguiar, a rasar o poste da baliza de Quim. Assustou a Luz, mas não a apagou e os visitados continuaram a vencer. Depois, alguns lances com relativo perigo para a baliza de Eduardo e chegou o fim do jogo com a vitória a pertencer aos líderes do campeonato.

O Benfica está forte. O caminho para o título está definido. Seis pontos não é decisivo; mas é bom. Perdendo no Dragão e empatando em casa com o Sporting, são campeões na mesma. Tudo está bem encaminhado. Só falta um bocadinho…

sábado, 27 de março de 2010

A definição de prioridades


Soube agora mesmo que o Benfica-Sporting se vai jogar numa Terça-Feira. Dia 13 de Abril, às 20.45h. Cinco dias depois da segunda mão dos quartos-de-final da Liga Europa, em Anfield Road, que se adivinha dificílima para o Benfica. Mas a verdade é que jogar apenas (um relativo apenas) cinco dias depois desta segunda mão vem demonstrar que Jorge Jesus já passou a olhar de outra maneira uma conquista europeia, talvez orgulhoso pelo que a sua equipa fez em Marselha e entusiasmado com possível eliminação de um grande clube inglês (que de grande esta época teve pouco) aos seus pés.

O Benfica conquistou, na sua história, duas Taças dos Campeões Europeus. Na década de 60, no tempo do grande Eusébio, ganhou a Real Madrid e Barcelona, em anos consecutivos, abrindo as portas da Europa ao futebol português. Depois, sucederam-se finais na década de 60 (mais três perdidas- Bela Guttman lanço a famosa maldição dos 100 anos sem vencer a Liga dos Campeões-), as quais só voltariam a aparecer na década de 80: em 82/83, com Eriksson ao leme, o Benfica perdeu a final da Taça UEFA por 2-1 (agregado das duas mãos) e, cinco anos depois, perderia a final da ainda Taça dos Campeões Europeus em grandes penalidades para o PSV. Dois anos depois, o Benfica atingiu de novo a final da TCE, mas perdeu-a (1-0) para o Super-Milan de Rijkaard, Gullit e Van Basten. Esta foi a última final europeia do Sport Lisboa e Benfica, que tenta agora voltar à glória europeia (se bem que não na Liga dos Campeões) através de uma equipa que joga e encanta pelos relvados por onde passa.

É preciso ter calma. A vitória contundente na Taça da Liga foi a primeira conquista da "Era Jesus". Mas a verdade é que o cansaço vai-se acumulando, o FC Porto não está em bom momento e adversários mais difíceis virão certamente (logo hoje, Sporting de Braga, e já na quinta o Liverpool) e as coisas vão-se complicar. Mas a demonstração de qualidade em Marselha (que massacre!) e a vitória expressiva no Algarve confirmaram o valor de uma equipa que tem sede de ganhar, marcar muitos e jogar bem. A fase mais difícil vem agora (em 17 dias, recebe Braga, Liverpool e Sporting, e visita o Anfield e a Figueira da Foz)e muito se joga nesta altura. A gestão do plantel tem de ser feita (para Aimar é necessário cuidado extremo e outros, como Saviola ou Cardozo, começam a denotar algum desgaste).

A verdade é que o plantel parece dar garantias no banco de suplentes. Olha-se e vêem-se jogadores como Sidnei, Airton, Amorim (que grande jogador!), Carlos Martins (forma fantástica), Menezes, Kardec ou Éder Luís, que acabam por tirar possíveis dores de cabeça a Jorge Jesus em caso de lesão ou castigo dos habituais titulares. Assim se formam as grandes equipas. De soluções no onze, de soluções no banco e de soluções no balneário (Nuno Gomes, Quim, Moreira, Mantorras e Luisão são as maiores referências). Estas, por vezes, são as mais importantes. E aqui também se baseia o sucesso do Benfica. Em experiência.

Hoje tudo está em campo. Não fiz este texto a pensar no jogo desta noite. Fiz para falar na definição de prioridades: e essas, agora, quase deixaram de existir para o Benfica. Europa e nacional tudo junto. Veremos se ganha algum título.

sábado, 20 de março de 2010

O pé de Kardec e os pés de Aguero


O blog anda um bocado apagado. Fase de mais trabalho e tal, é complicado. Agora que volto a escrever, "tenho" de escrever sobre a quinta-feira que passou. Quando Benfica e Sporting jogaram o seu futuro nas competições europeias. Os encarnados passaram, os leões não.

Ambas as tarefas se adivinhavam difíceis. O Benfica pior estava, que empatou a uma bola em casa (com golo sofrido no último minuto); o Sporting, por seu lado, precisava de ganhar em Alvalade ao Atlético de Madrid. O futebol é imprevisível e uma vez mais, nesta quinta de Liga Europa, ficou provado isso mesmo. Desde logo, a Juventus perdeu 4-1 frente ao Fulham (depois de ganhar 3-1 na 1ª mão e de estar em vantagem em Inglaterra logo aos 9 minutos); o Valência empatou a quatro em Bremen. Depois, o Benfica passou em Marselha e o Sporting foi eliminado em casa.

Mas comecemos pela parte negativa: o Sporting. Era um jogo de tudo ou nada; a nível interno, os objectivos dos sportinguistas limitam-se a um pobre 4º lugar e a Europa servia, até quinta-feira, como escape e como grande prioridade para a época corrente. Mas Carriço, Tonel e Grimi não podiam jogar (o primeiro por lesão e os outros dois por castigo) e, para piorar, Costinha riscou o nome de Izmailov da lista de convocados. Ainda pior: Yannick, que tão bem andava a jogar, também estava lesionado e não pôde dar o seu contributo à equipa.

Foi um Sporting condicionado (e muito!) aquele que entrou em campo. Mas a verdade é que, apesar de todos os condicionalismos possíveis, Carvalhal não entrou da melhor maneira. A melhor maneira de manter a estrutura que tantas boas exibições tem dado ultimamente aos adeptos, era trocar Yannick por Vukcevic e Izmailov por Saleiro. Mantendo o 4x2x3x1, a zona pressionante "Pedro-Mendes-Veloso-Moutinho" não seria desfeita. Mas com a introdução 4x4x2, a equipa perdeu as noções tácticas que estava a interiorizar até esta altura, ficando confusa como na altura dos 7 jogos consecutivos sem ganhar. Pareceu então perder-se. A escolha de Pereirinha não foi feliz e a entrada tardia de Matías também não. O 4x4x2, com Saleiro ao lado de Liedson e uma linha de quatro homens no meio-campo, acabou por prejudicar a maneira de defender da equipa. Caneira, com falta de ritmo, e Pedro Silva, com a (falta de) qualidade habitual, prejudicaram a manobra defensiva do Sporting. Todos estes factores estiveram na origem de um empate com sabor a derrota. O Sporting jogou bem; mas bem não chegou e a eliminação chegou pelos pés de um rapaz de 21 anos, que dá pelo nome de Kun Aguero. E assim, nem a Europa salvou uma péssima época do clube de Alvalade.

NÃO FOI MÃO DE VATA, MAS FOI PÉ DE KARDEC

Depois, Marselha. A parte positiva de um dia longo para Portugal a nível futebolístico. O Benfica voltou a ser grande a nível europeu. Voltou a sê-lo na melhor hora, quando o tempo se esgotava e a eliminatória estava bastante difícil. 1-0 aos 70 minutos depois de tanto desperdício, de tão bem jogar, custava. Di María falhou três, Cardozo atirou ao poste, o Benfica dominava desde os dez minutos mas Júlio César (sempre ele) fez porcaria. Niang aproveitou e marcou.

Mas houve um erro de Deschamps ao longo no início do jogo: começou da mesma maneira que na Luz, jogando na tentativa de tapar as principais peças benfiquistas (desde logo lhe saíram os planos furados porque Martins jogou em funções diferentes das de Aimar, confundindo o meio-campo francês) pensando que Jesus não iria analisar o jogo da primeira mão. Bem, Jesus soube como contra-atacar na perfeição. Martins trocou as voltas a Cissé, base do sector intermediário do Marselha, e acabou por ser decisivo enquanto esteve em campo. Depois, entrou Aimar para decidir. Mas para uma posição diferente (lugar de Saviola). Ainda confundiu mais o Olympique. O golo de Niang foi grande injustiça. Mas a justiça foi colocada pelos pés de Super Maxi e o empate chegou passado quatro minutos.

Depois, o tempo ia passando. Adivinhava-se o prolongamento. Mas o Benfica tentava evitar; jogava, atacava, massacrava. Caía em cima dos franceses como se estivesse a jogar em casa e a perder a eliminatória. Não se acobardou. Jogou para ganhar como gente grande. Aos 87 minutos, Cardozo isolou-se. Já se festejava o golo, mas... POR CIMA! Desespero. Três minutos depois, livre. Aimar para bater. Cruzou, há um desvio, o ressalto vem para Kardec que, com pouco ângulo, atira um petardo para a baliza do desprotegido Mandanda. Golo e apenas uma realidade: adeus prolongamento, olá quartos-de-final! Vitória com toda a justiça. Justiça é a palavra certa. Um grande Benfica jogou em Marselha. A mesma postura deve ser mantida quando defrontar o Liverpool. Assim, tudo é possível. E venham os ingleses!

segunda-feira, 1 de março de 2010

O grito do leão, o voo da águia e a queda do dragão


Semana importante no futebol nacional, onde se poderiam eliminar candidatos e onde os clubes de Lisboa decidiam o seu futuro nas competições europeias. Ontem, era o último dia da tal semana. Conclusões: O FC Porto já não é candidato ao título, Benfica e Sporting seguem para os oitavos da Liga Europa e o Sporting joga como este ano ainda não se tinha visto. Everton e FC Porto, em competições diferentes, caíram com estrondo em Alvalade, fruto de duplo 3-0, pareceram um acordar demasiado tardio para as hostes leoninas. A luta do título (e, provavelmente, da Champions) está agora reduzida a dois e o Sporting de Braga, qual grande equipa, parece cada vez mais próximo de atingir um lugar na maior competição europeia de clubes.

Começo por ontem. Ou melhor, pelo dia 21 de Fevereiro. O Braga visitava o Dragão. Para o anfitrião jogava-se cartada decisiva no caminho do penta, para o visitante era a oportunidade de saltar para a liderança isolada (ganhando o jogo). Uma máquina liderada por Varela demoliu o muro que, não sendo o de Berlim (esse demolido 1989 e novamente em 2010 pelo Benfica), era "apenas" melhor defesa deste campeonato. 5-1. Perante a fragilidade apresentada até aí pelo Sporting, pensava-se que a vitória do FC Porto em Alvalade era mais certa que a própria goleada desse dia. Mas eis que Quinta-Feira, os leões "deram cabo" de uma equipa inglesa em grande forma, o verton, e assustaram os portistas.

Ontem estava em campo a honra dos leões e o penta dos dragões. Aos 6 minutos, Yannick tornou confuso o caminho para esse penta-campeonato, tão esperado pelos adeptos azuis e que ficou, a partir daquele momento, bem mais longe. E depois foi um festival sportinguista. Fucile até pareceu mau jogador, nunca jogou tão mal desde que habita na cidade portuense; Ruben nem parecia o Ruben; Bruno Alves, nem ele jogou bem. Depois, os lisboetas tiveram Yannick a jogar como nunca, secundado por Veloso, Pedro Mendes, Moutinho, Izmailov e Liedson. No fim, 3-0. Talvez exagerado, sim, mas uma vitória justa para Carvalhal que, como disse na conferência de imprensa, tem dado o seu corpo a todas as balas, que cravam-se incómodas até ao fim da época. Carvalhal não é o culpado. Aliás, na hora das vitórias, tal como ele voltou a referir, Carvalhal tem mérito e não se deve olhar apenas para outros elementos. Uma vitória dele e com justiça. Agora pode utilizar a Europa como um escape a uma época terrível.

Por outro lado, Sábado, Braga e Benfica entravam em campo para ganhar. Os minhotos, depois de tremerem em casa frente ao Olhanense, acabaram por vencer 3-1. Mesmo sem Mossóro, os arsenalistas ganharam mais um jogo. Em Matosinhos, e depois do mau tempo desse dia, passou lá um furacão chamado Benfica. Di (ou será Tri?) Maria atacou com unhas e dentes os matosinhenses, talvez mostrando-se aos vários olheiros que marcaram presença no Estádio do Mar. E se se mantiver assim, até parece que 40M€ é o que ele vale (que não o é) e que se torna pouco quando se trata de um jogador da sua craveira (grande, mas não regular). Depois, sauda-se a estreia de Éder Luís a marcar no campeonato e ainda a boa exibição encarnada, mesmo sem Aimar e Javi García (por razões diferentes).

A luta está reduzida a dois emblemas. Sport Lisboa e Benfica e Sporting Clube de Braga batalham afincadamente por uma taça que premeia o mais regular. O Benfica merece ir na frente: é o que mais ganha, o que mais marca, o que menos sofre e o que melhor futebol joga. O Braga, carraça aborrecida, tenta mostrar que o pragmatismo tem é maneira de se jogar bom futebol e as vitórias sucedem-se.

Qual deles levará a melhor? Só o tempo o dirá...