domingo, 14 de fevereiro de 2010

O treinador rápido e o treinador lento


Hoje fui ver o Académica-Olhanense. 1-1 e a incómoda 11ªposição em risco (se amanhã a Naval vencer, ultrapassa a Briosa). Custou-me ver o jogo; não que tenha sido mau. Não, isso não foi. A Académica jogou bastante bem. Mas custou-me por ver, uma vez mais, o estádio vazio; custou-me por ver, novamente, André Villas Boas a merxer tarde e mal na equipa; custou-me porque o Olhanense, na primeira vez que foi à baliza, marcou e conseguiu o empate com esse golo; custou-me porque Tiero cometeu a maior estupidez dele desde que está em Coimbra e foi para a rua num momento crucial, onde a Académica estava por cima e à procura do segundo golo. Custou-me por tudo isto.

Ainda ontem li um artigo de Luís Freitas Lobo a falar de um "treinador da moda": André Villas Boas. A verdade é que ele tem razão. A qualidade está lá; mas por ter sido adjunto de Mourinho, fala-se mais do que ele está a fazer do que o que ele realmente está. É preciso calma. Claro que o treinador é bom; mas ainda tem muito a aprender. E os últimos dois jogos (FC Porto e Olhanense) provaram isso mesmo. Substituições tardias, mal feitas, que acabaram por penalizar uma equipa que lutou até à exaustão quer no Porto, quer hoje.

Mas vamos por partes. Ou melhor, por jogos. No Dragão adorei a maneira como Villas Boas montou a equipa. Jogou olhos-nos-olhos com o tetra-campeão nacional, à procura de uma vitória nos 90 minutos. A primeira parte correu muito bem, boas jogadas, oportunidades e assim começou a 2ª arte. Jogo repartido. A partir dos 60' somou asneiras atrás de asneiras. Tiero e Diogo Gomes estavam visivelmente cansados, Vouho também. Cris e Lito estavam no banco. Aos 64 minutos, Ruben Micael entrou para o lugar de Valeri e o Porto voltava a jogar como contra a Naval e Sporting. Eu pensei em Cris como solução natural para refrescar a equipa e dar nova consistência ao meio-campo, para ver se a entrada de Ruben não fazia grande mossa na Briosa. Mas o que é que o treinador fez? Meteu Lito para o lugar de Sougou... Até seria natural esta substituição para poupar Sougou para o jogo de hoje; mas não! Sougou hoje não podia jogar pela acumulação de amarelos contra o Sporting. Por isso, a que propósito é que ele saiu?? Não percebo. Ainda para mais, não era isso que se precisava (refrescar o ataque).

Portanto, fiquei surpreendido. Mas pior, só depois. Chegávamos ao minuto 80 e de Cris, nada. Eu já estava a ficar desesperado. E depois, um minuto depois, Mariano marca um golaço. Mas calma. Na jogada, se bem analisada, dá para ver claramente que o espaço onde remata Mariano é o espaço onde habitualmente joga Cris, no apoio defensivo a Nuno Coelho. O que aconteceu? A Académica tinha atacado, perdeu a bola e Diogo Gomes não conseguiu recuperar a tempo, Tiero não conseguiu chegar a Ruben, Nuno Coelho teve de compensar e Ruben tocou para Mariano. Este, sozinho, atirou uma bomba. Se Cris, fresco, estivesse a jogar, teria recuperado com muito mais facilidade que Diogo. Um minuto depois do golo, entrou Cris. Era tarde, no entanto. Cris não decide jogos, ajuda a equilibrá-los. Por isso, depois do golo não adiantava pôr Cris. Antes sim, depois não...

Depois, hoje. Uma vez mais, a equipa entrou bem no jogo. Estava a dominar o Olhanense quando Djalmir marcou na primeira vez em que os algarvios foram à baliza de Ricardo. Depois, a equipa da casa caiu de rendimento mas empatou num 'penalty' marcado por Tiero. A equipa voltou a cair em cima do Olhanense. Mas havia dois elementos a destoar dos restantes: Diogo Gomes e Lito. E se para o cabo-verdiano não havia substituto (apenas Amessan, pouco entrosado com a equipa), já para o primeiro havia Cris. O melhor médio da Académica estava...no banco. E assim ficou até aos 70 minutos, pois Tiero foi expulso aos 66' (só prova o que eu digo: tem técnica mas é muito burro) e era preciso reequilibrar a equipa. Não percebi substituição tão tardia. Além disso, com Emídio e Pedrinho a terem uma 2ªparte desastrada, como é que Cris não entrou mais cedo (para meter alguma calma na equipa)?? Enfim...

Depois, André Villas Boas meteu-se à defesa o resto do jogo, satisfazendo-se com o empate. Mas pior do que isso, só meter Amoreirinha para o lugar de João Ribeiro aos 74 minutos. Terrível substituição que acabou com o caudal ofensivo apresentado pelos estudantes até essa altura. Acabou aí a vontade de ganhar e limitaram-se a defender o empate, na nossa própria casa. Sinceramente, foi frustrante.

Villas Boas tem qualidade e margem de progressão. Mas ainda tem muito a aprender e os últimos dois jogos provaram isso mesmo.

A grande diferença para Domingos Paciência é essa. Ainda hoje, quando ouvia o relato do Braga, ouvi o comentador da Antena 1 referir que Domingos é um treinador muito rápido e decidido a mudar na equipa. Já em Coimbra o era. A diferença entre dois novos treinadores, que estão a fazer bons trabalhos nas suas equipas, é essa. Um é mais rápido a pensar o jogo e mais esperto na maneira de prever o jogo. Villas Boas ainda é muito inexperiente, tem menos nove anos e nunca foi jogador. Isso pesa sempre...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Grande semana do FC Porto


Esta foi uma grande semana para o FC Porto. Marcou 12 golos em três jogos, goleou o Sporting por 5-2 (eliminando-o da Taça), viu o Sp.Braga cair nos quartos-de-final (abrindo as portas da vitória na Taça de Portugal) e ainda viu o Benfica perder pontos para o campeonato em Setúbal. Mais do que isso, produziu três grandes exibições, assentes na imaginação de Varela, na eficácia de Falcão e no bom entendimento entre Ruben Micael e Belluschi. Jesualdo pareceu ganhar, por outro lado, mais três opções para a equipa: Ruben Micael, o novo reforço; Mariano, parecendo renascer; e Maicon, que tardava em dar mostras do valor que já lhe foi reconhecido nos tempos do Nacional da Madeira.

Isto só poderá ser bom para os dragões. A equipa anima e ganha confiança, seguindo-lhes as pisadas os adeptos. Talvez fosse precisa uma semana como esta para se dar o tal 'clique' que todos esperam desde o início do ano. E talvez o 'clique' não possa surgir em melhor altura. Mas já lá vamos.

Tudo começou no Sábado, dia 30 de Janeiro; o Porto via-se pressionado pelo Braga (que havia ganho, no dia anterior, ao Sporting). A deslocação à Choupana assumia importância capital na luta pelo título. A expulsão de Alex Bruno aos 30 minutos ajudou a que a goleada se construísse. Mas mesmo assim, a Choupana não é fácil para ninguém e 4-0 é quase impossível de se ver na Madeira. Para além disso, Ruben Micael provou ser um reforço para o imediato e mostrou bom entendimento com Belluschi (que parece outro com a nova companhia).
Depois, seguiu-se o Sporting. Jogo fundamental para a época futebolística. 5-2. Há 74 anos que não se via tal coisa: Sporting a sofrer cinco golos no Porto. Depois da esperança do mês de Janeiro, o Sporting disse adeus a campeonato e Taça em apenas quatro dias. O FCP, pelo contrário, vê, com a eliminação do Braga, as portas da conquista do troféu abertas.
A fórmula da vitória consistiu, desta vez, na entrada de Mariano Gonzalez como interior, que permitiu à equipa dar o apoio necessário para Belluschi se libertar mas, ao mesmo tempo, ganhar rotinas no sistema tradicional. O FC porto pôde variar, sem mudar os jogadores, entre um losango (Belluschi a 10, Ruben Micael na esquerda e Mariano na direita) e o 4x3x3 habitual, com Varela solto. As áreas de intervenção de cada jogador estiveram bem definidas e todos sabiam bem o que fazer. Foi uma equipa nortenha bem organizada (como há muito não se via) que enfrentou o Sporting. O resultado foi de 5-2, Mariano (o melhor jogo desde que está em Portugal) o melhor em campo. E que golo!

No dia seguinte, viu o Sp.Braga perder em penalties com o Rio Ave, sendo eliminado da Taça de Portugal.
Depois, este fim-de-semana, viu o Benfica empatar em Setúbal (14º classificado), com um 'penalty' falhado por Cardozo no último minuto. No entanto, antes de festejar, era preciso derrotar a Naval.
E mais uma goleada. 3-0. Tomás Costa e os já habituais Falcão e Varela. A fórmula foi a mesma da Taça. O FC Porto está a mais pontos do Benfica (7). Mas tem menos um jogo (em casa, com o Braga) e se ganhar, fica a quatro pontos. O campeonato mantém-se numa luta a três.

Por fim, em relação ao tal 'clique' na melhor altura, a verdade é que o mês de Fevereiro é decisivo para os grandes portugueses. Para os tripeiros, joga-se a 1ªmão dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, joga-se a decisão da meia-final da Taça da Liga (amanhã, frente à Académica) e tem, também, três jogos fundamentais para a Liga Sagres: deslocações a Matosinhos e Alvalade e recepção ao Sporting de Braga.

Veremos o que o futuro reserva aos dragões...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O habitat natural e a pressão



Ontem, o Benfica voltou a ganhar para o campeonato. 3-0 sobre o 5º classificado da Liga Sagres. A União de Leiria foi o oitavo clube a perder na Luz e apenas ao Marítimo (na abertura do campeonato) o Benfica permitiu a "ousadia" de conseguir levar um ponto do seu território. Uma vez mais, Saviola fez uma grande exibição ao lado de Aimar. E a importância do avançado é cada vez maior.
Renasceu na Luz. É o que se pode dizer de um jogador que passou os últimos anos em Espanha a "aquecer o banco" nos dois gigantes espanhóis, Barcelona e Real Madrid. Mas o verdadeiro problema de Saviola foi, para além de uma adaptação não muito feliz, a posição que ocupava em campo. Muitas vezes lhe pediam para desempenhar tarefas em 4x3x3, assumindo o papel de goleador na equipa.
No Benfica, Saviola pode ser o goleador. Mas a sua função é diferente, pois veio para ser o apoiante do verdadeiro goleador, Cardozo. Pode ser goleador, mas não o tem de ser. Essa é a grande diferença do Saviola do Benfica para o Saviola que jogava em Espanha.

Sente-se mais livre para fazer o que quer, formando dupla temível com Cardozo e, ao mesmo tempo, dupla temível com Pablo Aimar. "El Conejo" parece melhor que nunca, marca, assiste, joga e faz jogar. De facto, é a prova de que um bom aproveitamento táctico pode ser fundamental no desempenho de um futebolista.

No Barcelona, Saviola chegou para ser titular ao lado de Kluivert e Rivaldo. Jogava como apoiante do holandês e os resultados foram bons. Em 2002/2003 foi atravessando uma boa fase mas no ano de 2003/2004, teve problemas físicos e acabou por cair no esquecimento. Foi emprestado ao Mónaco no ano seguinte e ao Sevilha em 2005/2006, retornando à Catalunha no fim desse ano. Não resultou pois o Barça jogava em 4x3x3 e Saviola saía altamente prejudicado nesse sistema táctico. Ingressou no Real Madrid onde, para além de ter o mesmo problema, tinha de enfrentar a poderosa concorrência de Ruud Van Nistelrooy. E uma vez mais não resultou (ainda foi pior do que em Barcelona). Saiu e veio para Portugal. 5M€ parecem agora pouco para o que vale na realidade.

Mas este alto rendimento tem o dedo de Jorge Jesus. Quando todos apontavam Saviola como concorrente directo de Cardozo, Jesus pô-lo... ao lado do paraguaio. E assim conseguiu formar uma das melhores duplas de avançados de sempre na Luz, desde que os sistemas do futebol moderno são predominantes. E aqui a "culpa" é do treinador. Teve o condão de colocar o jogador no sítio certo. É este entendimento perfeito do espaço onde Saviola tem de jogar que permite as exibições que tem feito. Saviola gosta de marcar, mas não gosta de estar preso dentro da área. É o perfeito estereótipo do "jogador livre". Livre dentro de uma determinada zona, mas livre nessa zona. E vêem-se resultados óbvios nestes primeiros meses no seu habitat natural táctico no Benfica. O 4x4x2 com o seu amigo Aimar atrás e uma torre paraguaia ao seu lado têm mais beleza para o coelho. E agora, sem pressão de milhões que haviam pago por ele noutros anos, sem a pressão de jogar num gigante europeu, sem ter de olhar para cima e ver Nistelrooy ou Raúl, sem pressão, Saviola consegue ser grande jogador. Agora, maduro e evoluído, mostra aquilo que vale.

Obrigado Real Madrid!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O jogador rebelde


Todos os anos vemos grandes jogadores que têm problemas disciplinares dentro dos seus clubes, ou porque querem sair para clubes maiores ou porque estão chateados com a Direcção ou porque não estão satisfeitos com a sua posição na equipa. Esses são chamados de "jogadores rebeldes". No nosso campeonato, vejo a figura de um jogador que sempre foi afectado por problemas disciplinares e teve problemas em afirmar-se à custa disso: Carlos Martins. Agora, tenta relançar uma carreira que teve tudo para ser grande mas que acabou por perder-se nos labirintos da indisciplina.

Sempre viveu entre grandes exibições e jogos onde se "apagava" completamente. Depois, sempre com cara de insatisfeito, fazia jogos com raiva e outros com indiferença. Nunca se percebeu bem o que realmente podia fazer e se alguma vez poderia ser um jogador consistente como no início da carreira, na Académica. No Sporting nunca atingiu a tal regularidade necessária para satisfazer treinadores e acabou por sair pela porta pequena, sendo "enviado" para Huelva, procurando o tal reencontro consigo mesmo.

Foi logo no início da sua carreira que Martins começou a "procurar" os problemas. Em 2000/01, depois de fazer o seu primeiro jogo oficial pela equipa A do Sporting e representar Portugal no Torneio de Toulon, pediu para sair da equipa B por incompatibilidade com o treinador Jean Paul. Acabou emprestado ao Campomaiorense, onde fez 27 jogos e marcou um golo. Mostrou todas as suas qualidades como organizador de jogo. Voltou no fim de 01/02 a Alvalade, era Boloni o treinador. Aí, fez 6 jogos até Janeiro, onde foi novamente emprestado à Académica. Em Coimbra, era Artur Jorge o técnico, voltou às boas exibições, jogando por 15 vezes e marcando dois golos.

Retornou mais uma vez a Alvalade. Depois de uma época afectado por lesões, volta em grande em 2004/2005, jogando como número 10 no losango de Peseiro (Custódio, Rochemback, Hugo Viana e Martins) e puxando pela equipa no ataque. No ano seguinte, Paulo Bento chega ao comando e Martins volta a ser afectado por lesões. No ano de 2006/2007, Martins tem bastantes problemas com Paulo Bento. De facto, ao longo das quatro épocas em que representou o Sporting, Martins teve bastantes problemas físicos e, ao mesmo tempo, com os treinadores. É isso mesmo que o leva à saída de Alvalade, seguindo viagem para Huelva, onde encontra Varela e Beto (ex-capitão do Sporting).

Depois de um ano em grande nível, volta a Lisboa para representar... o Benfica. E na época passada voltou a ter alguns problemas físicos e este ano parecia encostado, sendo suplente de Ramires e reserva de Amorim. Mas...

Eis que agora Martins parece dar o "grito do Ipiranga"! As suas prestações neste mês de Janeiro, fazem pensar isso mesmo. Aos 27 anos, Martins tem forte concorrência no seu lugar. Coentrão, Ramires, Ruben Amorim parecem "atacar" Martins e sobretudo o brasileiro parece candidato a retirá-lo da equipa titular. Mas a verdade é que o médio português tem justificado a aposta de Jorge Jesus, e garra em campo não lhe falta. No entanto, a infantilidade que cometeu aos 72 minutos e consequente ausência da equipa no jogo de amanhã frente à União de Leiria, pode leva-lo a perder o lugar nos desafios próximos. Veremos como Carlos Martins reage... Mas lá que não desiste, isso não!

Mercado fechado

O fecho do mercado veio trazer uma bomba: Kléber "roeu a corda" e não veio para jogar para Portugal. O último dia de mercado foi bastante movimentado e novidades não faltaram. Nos três grandes, a novidade foi não haver novidades, com Hulk e Farías a ficarem pelo Dragão e Kléber a sair do Porto sem contrato assinado.

Aqui ficam as movimentações deste último dia de mercado:

Freddy Addy, Ganês, Defesa-esquerdo, 800 mil€, Randers FC/ FC Porto
Olberdam, Brasileiro, Médio defensivo, empréstimo, Marítimo/ Sp.Braga
Berlin, Camaronês, Avançado, Atlético Monzón/ Paços de Ferreira
Bruno Teles, Brasileiro, Defesa-esquerdo, Juventude Caxias/ V.Guimarães
Bibishkov, Búlgaro, Avançado, Steaua Bucareste/ Académica
Miguel Ângelo, Português, Defesa-central, Marítimo/ Olhanense
Rafael Bitencourt, Brasileiro, Médio, Joinville/ U.Leiria
Bruno Ribeiro, Português, Médio, Chaves/ V.Setúbal

João Tomás, Português, Avançado, Rio Ave/ Al-Sharjah
Sereno, Português, Defesa-central, V.Guimarães/ Valladolid
Sapunaru, Romeno, Defesa direito, FC Porto/ Rapid Bucareste
Licá, Português, Avançado, Académica/ Trofense
Amaury Bischoff, Luso-francês, Médio, Académica/ D.Aves
Diarra, Burkina, Avançado, Paços/ Beira-Mar
Vasco Varão, Português, Médio, V.Setúbal/ Carregado
Miguel Rosa, Português, Guarda-Redes, V.Setúbal/ Pinhalnovense



Quanto ao estrangeiro, há a destacar o empréstimo de Mancini(Inter) ao AC Milan e o empréstimo de Robbie Keane (Tottenham) ao Celtic de Glasgow.