quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Observando a América do Sul: O Cruzeiro americano




Ontem vi o Cruzeiro vs Guarani (Paraguai) a contar para a segunda jornada da Taça Libertadores. Sinceramente, parece-me que a equipa brasileira é uma das mais sérias candidatas à conquista da maior competição de clubes sul-americana.

Cuca inicia normalmente com Fábio, Pablo, Gil, Victorino, Gilberto, Fabrício (estes últimos dois estavam ontem lesionados, jogando Diego Renan a lateral e Marquinhos Paraná como volante mais fixo), Henrique, Roger (ex-Benfica), Montillo, Wellington Paulista e Wallyson (na foto em baixo). Uma equipa claramente virada para o ataque, com dois "meias" muito ofensivos e um volante mais móvel (Henrique) que muitas vezes sobe para a posição "10" alargando Roger para a faixa esquerda e Montillo para a direita. Tem dois avançados muito móveis, que caem facilmente nas alas e que finalizam muito bem (sobretudo Wallyson, que já leva quatro golos na Taça). A equipa responde bem a estes princípios de jogo mas a verdade é que teve sorte em não ter sofrido golos nos dois jogos que já fez para a competição (frente ao Estudiantes, 5-0, e frente ao Guarani, 4-0). No banco ainda há jogadores como Farías (marcou um golo frente ao Guarani), Thiago Ribeiro (um golo frente ao Guarani), Marquinhos Paraná, Diego Renan ou Leandro Guerreiro.

Ontem, a equipa teve alguns problemas em parar a dupla atacante dos paraguaios mas a verdade é que saiu incólume da partida, fruto de uma grande eficácia e de alguma facilidade em criar ocasiões de golo (já frente ao campeão argentino tinha acontecido o mesmo). Mesmo assim, acho que precisa de evoluir no sector mais recuado, apesar de não ter dúvidas quanto ao seu crescimento pois já se nota a influência do reforço Victorino (28 anos, internacional A uruguaio, da Universidad do Chile) no centro da defesa. Depois, a experiência dos seus jogaodres (Roger, Montillo, Fabrício, Fábio, Victorino ou Gilberto já têm muitos anos de futebol e já passaram por muito) poderá ser decisiva, tal como foi na vitória do Internacional de Porto Alegre no ano passado.

Acredito neste Cruzeiro e gosto de o ver jogar. A prioridade para 2011 é a Libertadores. Conseguirá a Velha Raposa o título mais ambicionado da América do Sul?

Observando Portugal: A demissão de José Guilherme


Este fim-de-semana a Académica perdeu mais um jogo na Liga ZON Sagres e o seu treinador, José Guilherme, demitiu-se. Sem dúvida a melhor opção, uma vez que a equipa caiu consideravelmente na tabela e piorou claramente a nível exibicional.

É preciso lembrar que a Briosa vinha de duas goleadas sofridas perante Marítimo (em casa) e Braga (fora) e a ideia inicial passaria, obrigatoriamente, pela reestabilização defensiva nos três jogos em casa (Paços e Benfica para a a Liga e União da Madeira para a Taça). Isso mesmo foi conseguido (0-0 e 0-1 para a Liga e 2-1 para a Taça). No entanto, a partir daí era preciso melhorar exibicionalmente e a nível de resultados, e esse mesmo "click" não foi conseguido.

Por entre erros tácticos (Sougou a ponta-de-lança, Diogo Valente a "10" ou a manutenção de Pedrinho como titular), falta de confiança dos jogadores e incapacidade para criar oportunidades de golo, José Guilherme apenas conseguiu dois empates caseiros em seis jogos para o campeonato, conseguindo duas vitórias (União e V.Setúbal) para a Taça e uma derrota em Guimarães por 1-0 na primeira mão da meia-final.

Na minha opinião, as características dos jogadores da Académica pedem mais bolas nas alas (Diogo Valente e Sougou são claramente os jogadores mais técnicos do plantel) e bloco médio a defender. A equipa não pode recuar tanto (também não pode defender alto pois não tem centrais velozes) pois a nível ofensivo a Briosa tem grandes jogadores. O talento não desapareceu, a confiança é que sim.

Via Lito Vidigal ou Augusto Inácio como boas soluções mas foi Ulisses Morais apresentado neste fim de manhã. Veremos o que consegue fazer.

Observando a Europa: Harnik (Estugarda)


Na última 5ºfeira, no Estádio da Luz, chamaram a atenção dos espectadores dois jogadores do Estugarda: Ogazaki e Harnik. Foram os mais de uma exibição menos da equipa alemã. Vi o Leverkusen 2-4 Estugarda para ver com mais atenção estes jogadores. E, depois do golo na Luz, um golo tirado a papel químico por Harnik.

O jogador alemão, de 23 anos, é um avançado polivalente perfeito para jogar contra blocos defensivos altos, desmarcando-se muito bem, tirando proveito da sua grande velocidade. Parece-me inteligente na forma de se movimentar e é bom a finalizar (leva 14 golos em 32 jogos no total das competições nesta época). Por vezes, na forma de jogar, faz-me lembrar Filippo Inzaghi (AC Milan), pois também o italiano gosta (ou gostava) de jogar no limite do fora-de-jogo.

Um jogador interessante para alguns clubes europeus no caso do Estugarda descer para a Bundesliga II.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Para onde vai o nosso futebol?


Hoje falo de algo mais abrangente. O estado das camadas jovens do futebol português. E a verdade é que me entristece ver para onde caminha o nosso futebol, onde já se apostou imenso nas camadas jovens e, cada vez mais, se verifica uma aposta em jovens estrangeiros.

Isso torna cada vez mais difícil fazer a tão propalada "revolução de gerações" e acaba por levar a muito maiores custos na formação dos jovens. Até há poucos anos atrás, as equipas compravam séniores mas não jovens. Agora até nos juvenis e nos juniores se verifica aposta em jogadores estrangeiros, "estrangulando a produção interna". Daí vermos tantas dificuldades para conseguir resultados bons nas camadas jovens, daí vermos tanta dificuldade em não olhar para ex-juniores com a velha frase do "é um miúdo, tem de ser emprestado".

Talvez a crise mude a situação do futebol português. Talvez a crise leve a que haja maior aposta nos miúdos portugueses que tanto talento têm para jogar à bola. Talvez a crise leve a um apertar de cinto e, consequentemente, a uma maior aposta em jogadores portugueses que não custem balúrdios. Assim, talvez deixemos de ver tantos salários em atraso, clubes em falência técnica e outros a terem tanto de apertar o cinto que parem nas distritais.

Afinal de contas, como apareceram Figo, Ronaldo, Quaresma, Simão ou Ricardo Carvalho? Apostando nos jovens. Assim tem de ser. Portugal tem uma grande selecção. E esta apenas existe porque apostámos, na altura, nesses jogadores. Porquê deixar de se manter uma linha portuguesa? Não percebo... Desejo apenas que os clubes acordem.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Observando a Europa: Sevilha



O próximo adversário do FC Porto na Liga Europa é o Sevilha e a verdade é que muitos antecipam um grande jogo. Acho que pode ser um jogo bastante interessante, de facto, mas não o melhor desta eliminatória. O Sevilha, apesar de ser boa equipa, está longe da força de épocas anteriores, colocando-se em 7º lugar com 31 pontos em 22 jogos, a 6 pontos do 6ª classificado e treze pontos do 4º, último posto a dar acesso à Champions (objectivo do clube).

Ainda assim, achei por bem ver alguma coisa deste Sevilha pós-mercado que acabou por apenas contratar Rakitic, quando se perspectivava um novo jogador para a defesa. A verdade é que é mesmo no sector mais recuado que reside o principal problema do Sevilha, onde a falta de velocidade dos centrais (sobretudo, mas também dos alterais) é gritante e a dificuldade em sair a jogar também, obrigando a equipa não possa jogar com o bloco muito alto no risco de sofrer um golo nas costas da defesa. A saída de Squillaci para o Arsenal no Verão não foi devidamente colmatada e a equipa acabou por se ressentir disso mesmo.

Agora, concentra as suas forças do meio-campo para a frente. No entanto, acho que há um erro a apontar no novo onze sevilhano: com o aparecimento de Rakitic no centro do meio-campo, ao lado de Zokora, a equipa perdeu o duplo-pivôt pressionante que tinha e que lhe dava muita força ao meio-campo. Falo da dupla Zokora-Romaric, acabando o segundo por "sair" para a esquerda. Assim, a equipa perde capacidade de pressão no centro (Rakitic é um "10" e não um "8") e perde criatividade na esquerda, uma vez que Romaric é um jogador mais talhado para fazer o passe de transição do que propriamente para desempenhar as funções de um extremo (drible, passar o adversário, cruzar para o avançado).

Depois, os perigos andam à solta: Jesús Navas na direita é a estrela da equipa, que tem Kanouté como avançado móvel entre linhas, jogando na companhia de Negredo ou Luís Fabiano, dependendo do adversário. Luís Fabiano é mais para os jogos em casa, onde o Sevilha é mais ofensivo e procura com maior intensidade o golo. Assim, Gregorio Ballesteros coloca um homem mais fixo na frente. Fora, por norma, joga Negredo, que recuperou de lesão e pode jogar na quinta. Os espanhóis são uma equipa que dão pouco espaço entre linhas, também um pouco por medo da sua defesa.

Nas bolas paradas, não coloca ninguém no ataque a defender cantos e, portanto, o FCP pode ter mais gente na área adversária. Nos cantos ofensivos, Ballesteros coloca quatro homens na grande área e dois no limite, colocando duas linhas de dois defesas cada atrás.

Sinceramente, parece-me que o FC Porto pode perfeitamente ultrapassar este Sevilha. No entanto, tem de tentar resolver já a eliminatória para evitar surpresas no Dragão.

OBRIGADO FENÓMENO!




Hoje acabou a carreira de Ronaldo. Possivelmente, o melhor avançado de sempre do futebol mundial moderno. Nos últimos 20 anos ninguém se superiorizou ao Fenómeno. E, para mim, nem sequer é alcunha. Ronaldo é, de facto, um verdadeiro fenómeno.

Tudo começou no Cruzeiro, tudo começou em Portugal. O primeiro jogo no Estádio da Luz, num particular; o primeiro golo dois dias depois, frente a Figueiredo, no Estádio do Restelo. Aqui começou a bonita história do brasileiro. Ao fim de um ano, marcou doze golos em catorze jogos no Brasileirão de 1993. Tinha 16 anos. Depois de um Mineiro 1994 fabuloso, onde marcou 21 golos, Ronaldo saiu para o PSV no Verão. 6 milhões de dólares, na altura, era muito por "um puto".

Afinal de contas, foi baratíssimo. Saiu do Cruzeiro com 57 golos em 59 jogos. Pelo PSV, 67 golos em 71 jogos. No Verão de 1996 foi aos Jogos Olímpicos e voltou como jogador do Barcelona, que procurava regressar aos títulos. Foi treinado por Bobby Robson e José Mourinho, que lhe mostraram o caminho certo para evoluir ainda mais. A transferência por 20 milhões de dólares. Golos atrás de golos.


Saiu para o Inter por 32 milhões de dólares no final de 97/98 com muita surpresa dos adeptos. 98/99 foi uma época atribulada em que o Inter perdeu o título para o Milan; no ano seguinte, conheceu a primeira grande lesão da sua carreira: rotura dos ligamentos cruzados do joelho direito que obrigaria a parar por cinco meses. Voltou em Abril de 2000 e mal tocou na bola, o joelho voltou a estoirar; desta feita, oito meses fora. Em 2001/2002 foi sendo utilizado ocasionalmente mas no Mundial 2002 foi a principal figura do Brasil campeão do mundo, formando os 4 R's mágicos (Roberto Carlos, Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo, capitaneados por Cafu). Foi nesse ano eleito o melhor do mundo pela terceira vez (recorde).

Passou uma época a reclamar de Hector Cúper, acusando-o de o utilizar sem devidas condições físicas, exigindo a saída de Cúper no Verão de 2003. O Inter não aceitou e, no último dia do mercado, o Real Madrid pagou 35 milhões de euros para o levar para a famosa equipa de "Galácticos". Juntou-se a Figo, Zidane, Morientes e Raúl e foi o melhor marcador da Liga Espanhola nessa época, sendo campeão nacional pela primeira vez. As épocas seguintes foram de seca de títulos, até que em 2006, Florentino Pérez saiu, começando a decadência de Ronaldo no Real. Em Janeiro de 2007, o Fenómeno saiu para o AC Milan, onde marcou nove golos em vinte partidas, lesionando-se com gravidade em Fevereiro de 2008, terminando aí a sua aventura.


Descobriu nessa altura que sofria de hipotireodismo e ingressou no Corinthians. Nestes três ano, marcou 18 golos em 31 jogos e sofreu várias lesões, não aguentando mais e acabando a carreira hoje. Assumiu-se como "derrotado por não conseguir levar o Corinthians à fase de grupos da Libertadores" e disse "doer o joelho até a subir a escada de casa".

Itália, casa das suas lesões, foi madrasta. Mas o futebol viu o que de bom Ronaldo teve para dar.

O mundo do futebol agradece. Os adeptos agradecem. Foi um Fenómeno, um dos melhores de sempre. Uma lenda que fica para a história. Ganhou tudo e tornou-se no melhor marcador de sempre em Campeonatos do Mundo.


Obrigado Ronaldo, o verdadeiro Fenómeno!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Observando a Europa: Lille


O Lille é, nesta altura, o líder isolado da Ligue 1. Cinco pontos é a vantagem que leva sobre o PSG e o Rennes e seis sobre o Marselha (de Lucho Gonzalez). A equipa é treinada pelo francês Rudi Garcia, quase com 47 anos, que aposta numa equipa equilibrada e que olha para a vitória sempre.

A equipa inicia os jogos em 4x3x3 numa disposição idêntica à do FC Porto. Com o experiente Landreau na baliza, o quarteto defensivo é composto pelos laterais Debuchy e Beria e os centrais Rami (reforço do Valência para a próxima época) e Chedjou; no meio-campo, Mavuba ocupa o vértice recuado do triângulo, jogando à sua frente os médios Balmont e Cabaye; no ataque reside a grande força do Lille, com o trio composto por Gervinho, Hazard e Moussa Sow a ser uma autêntica máquina (juntos, em todas as competições, já somam 36 golos esta época).

A equipa gosta de pressionar alto enquanto não está em vantagem e se marcar cedo relativamente cedo, mantém o bloco alto à procura do segundo golo. Para esta pressão funcionar, é fundamental a acção dos médios ofensivos Cabaye e Balmont, que se complementam e entreajudam bem. No entanto, o único box-to-box da equipa vive mais atrás; é o capitão Mavuba (na foto), 26 anos, com passagens pelo Bordéus (onde se destacou) e Villarreal. Não é muito imponente fisicamente mas é bastante inteligente a jogar, não se limitando a defender. A equipa procura-o para as transições tipicamente rápidas.

Por outro lado, o Lille gosta de jogar pelas alas. A tendência dos médios é de jogar nas faixas, onde aparecem as verdadeiras referências da equipa (Gervinho e Hazard). A equipa ganha outra dimensão com os dois extremos vagabundos, que trocam várias vezes de posição e aparecem várias vezes a ajudar o outro. Ou seja, quando o Lille ataca, vê-se, por vezes, Gervinho (na foto) e Hazard na mesma ala. Trocam as marcações dos defesas, confundindo o adversário. Depois, aparece Moussa Sow, ponta-de-lança senegalês de 25 anos; jogador vertical, bom e fácil finalizador, gosta de encarar o defesa, faltando-lhe alguma rapidez e está a ter uma grande época, tendo já dezassete golos em todas as competições.

Falta um central forte para substituir Remi pois não me parece que Emerson seja apropriado. À equipa falta alguma cabeça para se manter pressionante mesmo em vantagem em momentos tardios no jogo e, neste fim-de-semana, sofreu um empate contra o Auxerre graças a isso mesmo. O Lille "europeu", no entanto, é uma equipa diferente, pressiona com o bloco mais recuado e tem mais dificuldades em dominar os jogos.

A rever!

Kaká, obrigado pelo regresso


Kaká voltou! Voltou a marcar pelo Real uma semana depois de ter voltado a jogar. Mourinho e os adeptos do Real agradecem mas não só; os adeptos que gostam de futebol agradecem igualmente.

Sempre fui um profundo admirador de Kaká, mesmo que tenha tirado o lugar no Milan ao "nosso" Rui Costa. É um jogador fabuloso, um "10" como poucos vi jogar. Nesta década, apenas Zidane ultrapassou o seu nível e mais um ou dois chegou ao seu nível (Riquelme, Sneijder e Deco, talvez Rui Costa). É um cérebro verdadeiramente genial, um jogador que qualquer treinador gostaria de contar. As pessoas têm memória curta; até os maiores dirigentes do futebol mundial têm memória curta (demonstraram-na, por exemplo, quando tiraram Milito e Sneijder do onze ideal FIFA); mas a verdade é que o regresso de Kaká é uma lufada de ar fresco para o Real. É certo que têm Ozil mas Kaká é substancialmente diferente. Recebe a bola e pensa; pausa o jogo; levanta a cabeça; passa para onde quer.

Kaká voltou! Eu agradeço.