terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um Benfica com cabeça


Bem, acho importante falar sobre o Benfica. Ainda é cedo para se dizer se é o "Novo Benfica" ou não, mas a verdade é que parece querer lá chegar. Escrevo este post porque acho que é necessário.

Nos últimos anos, talvez mesmo desde que sei o que é futebol, fiquei farto de ver o meu clube gastar milhões em jogadores de esterco, gastar dinheiro em corrupção ou então ir contratar os melhores craques que depois nunca davam nada. Contratavam treinadores para, ao fim de um ano ( e é se tivessem sorte) irem embora. Dirigentes sem visão. Desde 1994, desde o último título que o Benfica ganhou com orgulho (aquele de 2004 não conta), que esta equipa tem sido assim. Parece, agora, querer mudar.

E a mudança começa a ser óbvia. As contratações este ano foram diferentes. Pensou-se melhor nos jogadores. Pensou-se melhor no treinador. Pensou-se um bocadinho mais na gestão do dinheiro. Apostou-se mais e melhor. Saviola, Ramires ou Javi García resultaram de uma busca mais pormenorizada de Rui Costa. O primeiro e o último estavam atirados no banco de suplentes do Real Madrid. O do meio, era procurado por mais 10000 clubes (exagero, claro...) mas o Benfica soube encetar negócio da melhor maneira. Depois, procurou "reabilitar" alguns jogadores, fisica-táctica-psicologicamente. David Luiz, Aimar, Di María, Cardozo são bons exemplos. Depois tentou melhorar a posição de defesa-esquerdo. Aí, ainda não tirou grandes dividendos, mas de qualquer maneira, louve-se o esforço.

A seguir, deu maior equilíbrio aos sectores. A confirmar-se a contratação de Airton, os encarnados ficarão com 10 opções para o meio-campo: Javi, Amorim, Airton, Martins, Ramires, Urreta, Coentrão, Di María, Menezes e Aimar. Finalmente, um "miolo" equilibrado. O ano passado, se bem se recordam, Quique jogava no tradicional 4x4x2 com duplo-pivôt à frente da defesa. E viu-se não poucas vezes, Amorim como extremo-direito, Di María a aquecer o banco ou na ala-direita, Aimar como ponta-de-lança e Reyes em sub-rendimento. Depois, Yebda que, apesar de fazer jogos bons, acaba por ficar bem atrás da qualidade de Javi García. Quique nunca entendeu as características dos jogadores. Sempre defendi que o Benfica devia jogar em losango. Aimar a 10, Di Maria ou Urreta na esquerda, Amorim na direita e Katsouranis na posição "6". Depois, Reyes no apoio a Cardozo, pois Suazo apenas rendeu nos primeiros 7/8 jogos da época. Assim, o Benfica talvez tivesse sido um pouco melhor. Mas não o foi.

Com Jesus, voltou-se a jogar bom futebol na Luz. O melhor desde há muitos anos. Os jogadores têm alegria em jogar. Jogam nas devidas posições, sabem o bem o que devem fazer. Javi apoia Aimar, que apoia Saviola, que, por sua vez, apoia Cardozo. A máquina joga bom futebol, com o equilíbrio "imposto" por uma gazela, que se farta de correr: Ramires. É o jogador mais importante do Benfica. Equilibra a equipa em qualquer momento do jogo e a sua participação no Clássico foi fundamental para a boa exibição encarnada. Vai ser vendido por vários milhões, quando custou apenas 7M€. Depois, na outra ala, "El Gigi" para desequilibrar, permite ao Benfica ganhar a dimensão do mais bonito tango, daquele com fintas e passes de letra, aquele futebol bonito para a vista de qualquer adepto. Mas, de repente, um apagão. E é aqui que reside o principal problema de Angelito. Apaga-se com a mesma frequência que se acende e isso prejudica o seu futebol e o seu desempenho. Tem de ter mais cabeça e jogar de maneira bonita mais regularmente.

Depois, no banco, um homem: Jorge Jesus. Estamos a ganhar 1-0? Há que ganhar 2-0. Estamos a ganhar 8-0? Há que ganhar 9-0. E esta atitude é transmitida aos jogadores. "O preço do bilhete tem de ser retribuído pelos jogadores", disse uma vez o técnico encarnado. E é verdade. Portugal agradece, o futebol agradece!

Agora sim, vejo o "Glorioso". Com um investimento de cerca de 25M€. o Benfica tornou-se, finalmente, uma equipa. Tem um plantel equilibrado; joga muito bom futebol; recuperou a grande massa adepta que tem; tem um bom treinador; tem um dirigente que sabe pensar (Rui Costa); tem um sistema táctico que favorece os jogadores; já não tem jogadores como Uribe, Paulo Almeida, Dudic, Toy, Rui Baião, Argel, Fernando Aguiar ou Beto (na foto)...

O Benfica está diferente. No entanto, ainda tem que comer muito até chegar ao nível estrutural do FC Porto. Mas por algum lado tem de se começar... A Nação agradece!

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