segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Análise ao Clássico III - O jogo



Ontem foi o dia do clássico entre Benfica e FC Porto. À 14ªjornada encontraram-se na Luz para mias um jogo de raça, de estádio cheio, de uma vitória fundamental para qualquer uma das equipas. Tudo isto e muito mais representou o jogo de ontem. E no fim a vitória dos anfitriões. A vitória que acabou com os fantasmas, com aqueles que diziam que a grandes, este Benfica não consegue ganhar. Não conseguia... Mas já consegue. E aquele golo de Saviola foi muito mais do que apenas um golo. Representou o renova da esperança em alta, representou 6 pontos (afinal este Porto perdeu 3 pontos e o Benfica ganhou 3), representou o explodir de alegria de cerca de 61 mil pessoas (contando com três mil dragões) e sobretudo representou a vitória sobre o FCP. Aquela que todos queriam.

Sem exagero, este foi um dos jogos mais importantes para os encarnados na última década. Repare-se: nestes últimos dez anos, houve alguns em que o Benfica nem sequer lutou arduamente pelo título; competições europeias, raramente chegou longe (excepção feita aos quartos-de-final da Champions contra o Barça e aos quartos da UEFA contra o Espanhol); por fim, tirando o Benfica-Sporting os últimos dois jogos do campeonato de Trapattoni (Sporting e Boavista), este foi, de facto, um dos jogos mais importantes da década. Veio provar que este Benfica é diferente; veio provar que está superior ao Porto; veio afastar fantasmas; veio colar esta equipa ao líder Braga, esse sim parece não querer outra coisa que não a liderança.

Foi o Benfica que entrou ontem em campo. Como já o conhecemos. Não aquele de Olhão, figura irreconhecível, mas sim aquele que já nos habituou. Passemos então, à análise do jogo.

O Benfica entrou no relvado com o seu losango habitual. No entanto, o onze era uma incógnita até à hora do jogo: Peixoto jogou a defesa-esquerdo, David Luiz no centro (e em boa hora); Urreta jogou na ala-esquerda, Ramires na direita; Carlos Martins assumiu o papel de Aimar, no apoio a Saviola e Cardozo. E, desta maneira, a equipa funcionou. Com os magos argentinos talvez fosse um pouco diferente, mas nada se pode apontar àqueles que os substituíram. Urreta e Martins não só cumpriram ofensivamente como também ajudaram a defesa em momentos fundamentais do jogo, tornando-se peças-chave da equipa no decorrer do encontro. Saíram ambos aos 66', esgotados por ainda não terem ritmo de jogo suficiente. E foi assim que o Benfica venceu.

Entrou melhor o Porto, que, tal como eu tinha previsto, entrou em campo com Guarín e Rodriguez e sem Belluschi e Varela. Os jogadores certos mas ... da maneira errada. A equipa desorganizava-se facilmente, denotaram-se lacunas no capítulo do passe, Fernando e Meireles estiveram irreconhecíveis nesse aspecto. O Porto não conseguia criar jogo porque facilmente perdia a posse da bola logo no 1º ou 2º passe de construção. Quando começou o jogo, logo pensei que nada iria fugir ao que tinha previsto: o Porto mais dominante, o Benfica a tentar jogar como podia. Mas depois dos primeiros cinco minutos, o Benfica contrariou essa expectativa; controlou o jogo, deu cabo do meio-campo dos dragões e mesmo nas alas, onde não se deve esquecer que era Peixoto quem cobria Hulk, os da casa levaram a melhor. Falcão, esse, nem se via. Javi García, David Luiz e Ramires foram fundamentais para o domínio que se verificou na primeira parte.

Apesar de não criar ocasiões flagrantes de golo nos primeiros 20 minutos, via-se claramente que o Benfica estava a levar a melhor sobre o seu rival, que se via retraído no seu sistema táctico mal organizado. As peças certas mas mal postas. Muitas vezes, o esquema tornava-se num 4x2x3x1 inexplicável, visto contrariar toda lógica de princípios tácticos portistas. Meireles quase que era um segundo trinco, Guarín estava demasiado preso a tarefas defensivas. Assim, a fase de construção começava demasiado atrás e depois não havia gente a quem passar um pouco mais na frente. Daí, não perceber a entrada de Belluschi apenas aos 80 minutos. Já que Jesualdo queria jogar neste sistema, então Belluschi era o indicado. Não percebi.

Depois, o lance do jogo. Ia a 1ªparte a meio, quando, numa jogada que teve tanto de perigosa como de confusa, Cardozo remata potente para uma "defesa" de Álvaro Pereira em cima da linha; depois de alívios de Fucile e Meireles, David Luiz antecipa-se a Falcão, pontapeia para a área, onde Saviola fica sozinho perante Helton (sem qualquer fora-de-jogo) e atira a contar. Golo legal e justo para o que se estava a passar. O clássico não se decidiu aqui, ao contrário do que dizem. Mas este foi o lance mais importante. É diferente. Depois, a 1ªparte manteve-se na mesma toada: o Benfica a controlar a posse de bola (59%), a jogar bem, a construir e a encostar às cordas o FCP.



Mas depois do intervalo mudou. A entrada de Varela foi decisiva para a resposta azul-e-branca. Saiu Guarin, Rodriguez passou para o meio-campo e o 4x3x3 bem definido voltava. E o FC Porto melhorou claramente. Jogou melhor futebol, mais rápido, mais esclarecido e mesmo Fernando e Meireles melhoraram um pouco. A equipa ganhava nova vida e os anfitriões passaram a encarar o jogo de maneira diferente. Foi aqui a diferença de Jesus para Jesualdo. Soube entender os momentos do jogo e começou a defender a vantagem no momento ideal. Com a entrada de Varela, o Benfica não podia continuar da mesma maneira. Teve de ser inteligente, ter capacidade de sofrimento, lutar até mais não e saber gerir um jogo que valia mais do que "apenas" três pontos. E soube-o ganhar com grande capacidade e estofo de campeão.


A partir do momento em que houve nova frescura no meio, com as entradas de Luís Filipe (até ele jogou bem, caramba!) e Weldon para os lugares de Martins e Urreta, o Benfica conseguiu encontrar a fórmula que permitiu parar o "novo" FC Porto. E assim voltou a controlar, a equilibrar ainda mais o jogo e á conseguiu ganhar. Lucílio Baptista, esse, não marcou dois penalty's, um para cada lado. Aos 33' Peixoto sobre Hulk e aos 72', mão na bola de Rodriguez. Portanto, os treinadores nada têm para se queixar.



No computo geral, não foi um grande jogo. Porque o relvado também não ajudou; porque os intervenientes, por vezes, também não ajudaram; porque este era um jogo de pragmatismo, de inteligência e de táctica. Não era um jogo para 4-0, 0-4 ou 10-0. Era um jogo de 1-0, 2-0 ou 1-2 (e por aí fora)...

No fim, 1-0. Saviola volta a mostrar o seu nível. E o Benfica também. E agora, o Natal até sabe melhor para os lados da Luz.

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