quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O habitat natural e a pressão



Ontem, o Benfica voltou a ganhar para o campeonato. 3-0 sobre o 5º classificado da Liga Sagres. A União de Leiria foi o oitavo clube a perder na Luz e apenas ao Marítimo (na abertura do campeonato) o Benfica permitiu a "ousadia" de conseguir levar um ponto do seu território. Uma vez mais, Saviola fez uma grande exibição ao lado de Aimar. E a importância do avançado é cada vez maior.
Renasceu na Luz. É o que se pode dizer de um jogador que passou os últimos anos em Espanha a "aquecer o banco" nos dois gigantes espanhóis, Barcelona e Real Madrid. Mas o verdadeiro problema de Saviola foi, para além de uma adaptação não muito feliz, a posição que ocupava em campo. Muitas vezes lhe pediam para desempenhar tarefas em 4x3x3, assumindo o papel de goleador na equipa.
No Benfica, Saviola pode ser o goleador. Mas a sua função é diferente, pois veio para ser o apoiante do verdadeiro goleador, Cardozo. Pode ser goleador, mas não o tem de ser. Essa é a grande diferença do Saviola do Benfica para o Saviola que jogava em Espanha.

Sente-se mais livre para fazer o que quer, formando dupla temível com Cardozo e, ao mesmo tempo, dupla temível com Pablo Aimar. "El Conejo" parece melhor que nunca, marca, assiste, joga e faz jogar. De facto, é a prova de que um bom aproveitamento táctico pode ser fundamental no desempenho de um futebolista.

No Barcelona, Saviola chegou para ser titular ao lado de Kluivert e Rivaldo. Jogava como apoiante do holandês e os resultados foram bons. Em 2002/2003 foi atravessando uma boa fase mas no ano de 2003/2004, teve problemas físicos e acabou por cair no esquecimento. Foi emprestado ao Mónaco no ano seguinte e ao Sevilha em 2005/2006, retornando à Catalunha no fim desse ano. Não resultou pois o Barça jogava em 4x3x3 e Saviola saía altamente prejudicado nesse sistema táctico. Ingressou no Real Madrid onde, para além de ter o mesmo problema, tinha de enfrentar a poderosa concorrência de Ruud Van Nistelrooy. E uma vez mais não resultou (ainda foi pior do que em Barcelona). Saiu e veio para Portugal. 5M€ parecem agora pouco para o que vale na realidade.

Mas este alto rendimento tem o dedo de Jorge Jesus. Quando todos apontavam Saviola como concorrente directo de Cardozo, Jesus pô-lo... ao lado do paraguaio. E assim conseguiu formar uma das melhores duplas de avançados de sempre na Luz, desde que os sistemas do futebol moderno são predominantes. E aqui a "culpa" é do treinador. Teve o condão de colocar o jogador no sítio certo. É este entendimento perfeito do espaço onde Saviola tem de jogar que permite as exibições que tem feito. Saviola gosta de marcar, mas não gosta de estar preso dentro da área. É o perfeito estereótipo do "jogador livre". Livre dentro de uma determinada zona, mas livre nessa zona. E vêem-se resultados óbvios nestes primeiros meses no seu habitat natural táctico no Benfica. O 4x4x2 com o seu amigo Aimar atrás e uma torre paraguaia ao seu lado têm mais beleza para o coelho. E agora, sem pressão de milhões que haviam pago por ele noutros anos, sem a pressão de jogar num gigante europeu, sem ter de olhar para cima e ver Nistelrooy ou Raúl, sem pressão, Saviola consegue ser grande jogador. Agora, maduro e evoluído, mostra aquilo que vale.

Obrigado Real Madrid!

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